sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sobre suas mãos


Inteiramente sob sua proteção e afeto.

Doação recíproca,
dependência,
fragilidade.


Me entrego por inteira e me faço crescer junto. Aprendendo os passos que oferece, incertos ou não.

No peito, o coração, a metade que resta e sustenta todo o pequeno corpo, frágil.


Me entrego por inteira, passo a passo, dia após dia, em cada queda uma nova cicatriz.


Me entrego por inteira e me faço nuvem para aliviar suas mãos, já não tão grandes como outrora.

No peito, o coração ainda metade, forte.


Me entrego por inteira, agora ao mundo, covarde e vil.

Mesmo assim, me entrego por inteira.

Mesmo sem crença ou graça.

Sem Denário ou troféu.

Sem aplauso, vaia, sem adeus.

Me entrego por inteira dia após dia e no peito, um coração que corajosamente bate e invade, e de tanto bater descubro que sempre foi inteiro, perfeito e íntegro.

domingo, 12 de julho de 2009

Fotos antigas

Assim, visto do alto, o mundo torna-se indiferente.
Talvez mais sépia, talvez mais gris.
Seja então o último dos porões a se abrir para que se desfaça toda poeira e mofo ao sol.
Os telhados, esses pobres recebedores de dores e sonhos, percorrem o mundo sem barreiras, sempre ao sol, ao vento, à chuva.
E se vão.
Perdem seu brilho,
sua cor,
seu viço.
Mas estão ali, como um mar de assuntos não percorridos ou anunciados.
Somente os gatos como testemunhas, e a lua como guia.

Ali, visto de cima, não há disfarce.
Os remendos são claros, há marcas do tempo e das intempéries.
Há ninhos passados, abandonados, desfeitos.
Há restos de tudo o que por ali passou.
O que veio de cima mas por ali (re)pousou.
No mais é apenas deserto sem pistas,
mutante,
que expulsa o que recebe.

Talvez mais sépia, talvez mais gris.

Os telhados, esses pobres cobertores de vidas, seguem seus rumos
sem tino ou medo, como cegos ou tolos, gratos ou bestas.
Sem perguntas ou tampouco respostas.
Seguem o destino que a lua dita,
o sol impõe, a chuva exige.

Mas tem o vento.
E esse a tudo desfaz
pois que se coloca entre todos sem licença ou espanto
Sem rima ou poesia
Apenas de fato

E chega varrendo a chuva, esfriando o sol ou a lua.

E o vento define o lugar dos telhados e os arranca pra sempre
dos lugares de sempre
destrói o gris, desfaz o sépia, entorna o vermelho.

domingo, 5 de julho de 2009

Uma canção para o mundo

E então a luz se fez
E o mundo então incerto
descobre suas cores,
suas nuances,
seus relevos.

E então: luz-se
E então ? a luz?
E então se fez ?
E então fez-se
Então fez
Então Se
Então luz

E com a luz descobre também as sombras,
o esconderijo dos fracos,
dos covardes,
dos tímidos
Não que sejam iguais,
mas diante da luz aparentam.

Mas benditos sejam esses !
Pois que toda fraqueza,
covardia ou timidez
será uma dia iluminada

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mulher


Ora menina sem hora e sem dor
Ora mulher

Ora menina senhora se dá
Ora mulher

Ora menina que sonha e que chora
Ora mulher

Ora menina na fronha a pensar
Ora mulher

Ora menina que teima e bate o pé
Ora mulher

Ora menina entre laços e flores se enfeita
Ora mulher

Essa menina que é doce e meiga é também frágil
A mulher...