domingo, 22 de novembro de 2009

Processo

Inteiro, parte de um parto

Parto sem dor, dormência, inocência



Externo, exímio fugitivo de luzes de um palco

Palco de vida, vivida, vívida



Pulsa a vida por dentro

Como uma nova prestes a explodir e renascer

Fazer brotar nova vida, novos mundos, novos rumos

e muitas luzes



Respiração, inspiração, transpiração

Piração ?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Gangorra


Preto e Branco
Luz e sombra
Bailarinas e Palhaços
Violões e bumbos
Ampulhetas e mar aberto

ir e vir
ser e estar
ficar e partir

falar e calar
ouvir e julgar
maltratar e amar

Complementos de outro, indo e vindo
Vindouros, sábios, sãos

Promessas infantis de dedos cruzados que se repartem e se vão
Pactos de sangue na escada escura,
Na inocência tímida,
Na pureza da alma,
Nos primeiros passos

Assim segue o rumo das coisas
e então chegam o cinza,
a penumbra,
os trapezistas,
os oboés e
os castelos de areia.

domingo, 30 de agosto de 2009

Juramento de uma mente sem lembranças


Não sei ou não entendo.
Juro.
Muitas das vezes sua fala não tem eco, não faz sentido.
E de um esforço Hercúleo tento extrair o odor bom ou ruim de seu pensamento que se esvai sem freio. Como uma pororoca forte e desmesurada, arrancando as raízes outrora firmes e sólidas.

Eu tento, juro.
Mas minha ignorância nesses fatos se mostra intolerante, impaciente, indecisa e apressada.

Eu faço, creio. Cria fosse assim o caminho que havíamos juntos traçado, sonhado. Eu faço o que posso e o que também não deveria. Mas faço em prol de um bem maior. Um bem, que pudesse estar ou ser, pequenino, sem forças, nascente. Muitas vezes apenas promessa decente.

Caminho sem pernas, mais no pensamento, no vento, no mundo criado por poucos, alentado por tantos. Um mundo de verdades, de erros improváveis, não mensuráveis, sem julgamento, sem tento.

Caminho na luz dos olhos que reluzem estrelas, e mesmo sem vê-las sei que ali estão, vivas ou não. Mas o que importa ? Onde estiveram deixaram história, memória. Se o brilho se apagou, se o ciclo acabou, alguém fez um pedido e nesse lapso um presente: a eternidade na história.

Juro querer sempre ser o todo, o muito, o contínuo.
Juro tentar entender sempre. Entender a incógnita nas equações de palavras. Palavras jogadas sem fé ou perdão.
Juro buscar o caminho melhor, não 0 menor.
Juro sem medo de errar.
Juro trilhar outra vez.

sábado, 15 de agosto de 2009

Do barro, da vida


Não, nem tudo está em suas mãos.
Há o pouco, o punhado de areia que escapa seca, fina e branca.
Há também o barro úmido que não se esvai e deixa partir somente a água que parte e o deixa em partes ressequidas.
O barro só se vai após a água partir, seco sem algo que o faça inteiro.
Das partes que somos, secos, partimos, nos espalhamos pulverizados.
Talvez fazendo parte de outra parte, talvez perdidos em partes soltos e ínfimos.
Mas há a chuva que sempre vem e de tempos em tempos recolhe os grãos, o pó, os despedaçados.
E novamente há o barro, o ciclo.
Vida que retorna em partes de tantos.
Tantos que repartem vida a muitos.
Muitos que nem sabem que vivem
Vida que reparte vida.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sobre suas mãos


Inteiramente sob sua proteção e afeto.

Doação recíproca,
dependência,
fragilidade.


Me entrego por inteira e me faço crescer junto. Aprendendo os passos que oferece, incertos ou não.

No peito, o coração, a metade que resta e sustenta todo o pequeno corpo, frágil.


Me entrego por inteira, passo a passo, dia após dia, em cada queda uma nova cicatriz.


Me entrego por inteira e me faço nuvem para aliviar suas mãos, já não tão grandes como outrora.

No peito, o coração ainda metade, forte.


Me entrego por inteira, agora ao mundo, covarde e vil.

Mesmo assim, me entrego por inteira.

Mesmo sem crença ou graça.

Sem Denário ou troféu.

Sem aplauso, vaia, sem adeus.

Me entrego por inteira dia após dia e no peito, um coração que corajosamente bate e invade, e de tanto bater descubro que sempre foi inteiro, perfeito e íntegro.

domingo, 12 de julho de 2009

Fotos antigas

Assim, visto do alto, o mundo torna-se indiferente.
Talvez mais sépia, talvez mais gris.
Seja então o último dos porões a se abrir para que se desfaça toda poeira e mofo ao sol.
Os telhados, esses pobres recebedores de dores e sonhos, percorrem o mundo sem barreiras, sempre ao sol, ao vento, à chuva.
E se vão.
Perdem seu brilho,
sua cor,
seu viço.
Mas estão ali, como um mar de assuntos não percorridos ou anunciados.
Somente os gatos como testemunhas, e a lua como guia.

Ali, visto de cima, não há disfarce.
Os remendos são claros, há marcas do tempo e das intempéries.
Há ninhos passados, abandonados, desfeitos.
Há restos de tudo o que por ali passou.
O que veio de cima mas por ali (re)pousou.
No mais é apenas deserto sem pistas,
mutante,
que expulsa o que recebe.

Talvez mais sépia, talvez mais gris.

Os telhados, esses pobres cobertores de vidas, seguem seus rumos
sem tino ou medo, como cegos ou tolos, gratos ou bestas.
Sem perguntas ou tampouco respostas.
Seguem o destino que a lua dita,
o sol impõe, a chuva exige.

Mas tem o vento.
E esse a tudo desfaz
pois que se coloca entre todos sem licença ou espanto
Sem rima ou poesia
Apenas de fato

E chega varrendo a chuva, esfriando o sol ou a lua.

E o vento define o lugar dos telhados e os arranca pra sempre
dos lugares de sempre
destrói o gris, desfaz o sépia, entorna o vermelho.

domingo, 5 de julho de 2009

Uma canção para o mundo

E então a luz se fez
E o mundo então incerto
descobre suas cores,
suas nuances,
seus relevos.

E então: luz-se
E então ? a luz?
E então se fez ?
E então fez-se
Então fez
Então Se
Então luz

E com a luz descobre também as sombras,
o esconderijo dos fracos,
dos covardes,
dos tímidos
Não que sejam iguais,
mas diante da luz aparentam.

Mas benditos sejam esses !
Pois que toda fraqueza,
covardia ou timidez
será uma dia iluminada

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mulher


Ora menina sem hora e sem dor
Ora mulher

Ora menina senhora se dá
Ora mulher

Ora menina que sonha e que chora
Ora mulher

Ora menina na fronha a pensar
Ora mulher

Ora menina que teima e bate o pé
Ora mulher

Ora menina entre laços e flores se enfeita
Ora mulher

Essa menina que é doce e meiga é também frágil
A mulher...

domingo, 7 de junho de 2009

Hamburg Song

Não, não quero ser adorada, ser a primeira, única ou a última.
Não quero me fazer ouvir
Mudar você ou a mim mesma.

Talvez apenas quisesse fazer você brilhar, brilhar e brilhar.
Brilhar a luz que dentro se esconde
com medo ou preguiça,
amor ou temor,
sabedoria ou insensatez.

Sim,
Sinta-se amado verdadeira e profundamente
Sem fronteiras
e de forma incondicional

As vezes penso que pode ser perda de tempo,
mas já é tarde,
o mar não escolheu a lagoa ou tampouco a menina
Mas ele é tão imenso que pode conter de tudo
e falsear o que poderia ser
ou ainda o que gostaria que fosse...

Nos encontraremos no fim
quando formos gatos.



I don't wanna be adored
Don't wanna be first in line
Or make myself heard
I'd like to bring a little light
To shine a light on your life
To make you feel loved
No, don't wanna be the only one you know
I wanna be the place you call home
I lay myself down
To make it so, but you don't want to know
I give much more
Than I'd ever ask for

Will you see me in the end
Or is it just a waste of time
Trying to be your friend
Just shine, shine, shine
Shine a little light
Shine a light on my life
Warm me up again
Fool, I wonder if you know yourself at all
You know that it could be so simple
I lay myself down
To make it so, but you don't want to know
You take much more
Than I'd ever ask for

Say a word or two to brighten my day
Do you think that you could see your way
To lay yourself down
And make it so, but you don't want to know
You take much more
Than I'd ever ask for

domingo, 24 de maio de 2009

Amor, sublime amor

Amor
Palavra estranha e que de tão desmesurada
muitas vezes escorre e se esvai.

O tempo passa mas o significado não me ocorre.
Ele cresce, multiplica e se traduz em paz, aceitação.

Amor, sublime amor. Sublime, superior, inexplicável, inexorável, imutável.

Por quanto tempo o homem consegue carregar o amor ?
Seu fardo pode ser por demais pesado para ombros tão frágeis.
Por demais brilhante para olhos tão cerrados.
Por demais perfumado para olfato impregnado das coisas do mundo.

Por quanto tempo um homem pode perceber o amor ?
Translúcido, inodoro, imaterial.

Talvez nunca.
Talvez pra sempre.

Talvez ou nunca.

domingo, 17 de maio de 2009

Menina

Visceral.
Vejo uma lâmpada, remédios, fios emaranhados.
Tudo se torna escuro aos poucos.
Não posso mais distinguir a lâmpada dos fios...

Ao fundo uma melodia doce baila ao frio matinal.

O sol timidamente aparece e invade minha janela
roubando a tranquilidade e o torpor da canção.
Mas a canção cresce como que dando boas vindas ao dia que nasce

O cão ainda dorme, a menina ainda dorme, a lâmpada não está acesa.

Ainda mais forte insiste a melodia que cresce e cresce.

As portas se abrem, o vento gélido penetra sem piedade.
As folhas amareladas, sem pedir nenhuma licença, cobrem a varanda.
Cama gélida que o sol timidamente repousa.

Esfregue os olhos, menina !
Em seus pequenos sapatos, mais um dia inteiro.
Em seus cachos negros pululam as idéias, os arco-íris.
Em suas mãos de travesseiro, a vida que brota desmesuradamente,
sem escolha, sem pensamento, sem querer.
Venha ao mundo real. Traga a música e a cor,
A suavidade e o desembaraço.

Caminhe até o rio de águas claras
onde os peixes e as pedras lhe presenteiam com um balé.
Ao entrar no rio deixe seus cachos negros encher de cores o rio.
Um arco íris a romper os céus.
Do leito do rio leve somente pequenas pedras,
escolhidas com cuidado e um pouco d'água límpida.

Volte pra mim menina, e traga a água, a música a as cores.

Máscaras Cotidianas

Máscaras Cotidianas, Máscaras Urbanas.

Máscaras...
Máscaras domésticas,
Máscaras comerciais,
Máscaras afetivas,
Máscaras...

Simples objeto de proteção ? De adorno ?
Posturas diferentes para diferentes situações sociais ?
Diferentes papéis vividos
ou uma personalidade de colcha de retalhos ?

Camaleões urbanos em permanente mutação de cores,
de camuflagem, ou exibicionismo?

Somos diversos, somos muitos, somos mais,
Somos muitas faces que se revelam e se escondem.
Que se misturam e se completam.
Somos nós por inteiro ou pela metade.

Tudo levar, tudo deixar,
Tudo ser, tudo ter.

Bolsos sobrepostos para nada esquecer (ou tudo esconder?),
A cada instância uma necessidade.

Somos um emaranhado de nós mesmos e de tantos que por aqui passaram
Carregamos um pouco de todos e deixamos um pouco de nós...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

o som de uma lira


E a lira se revolta.
Volta ao passado e desprende saudade a cada sol pálido.
São notas de verdade, de sentimento e razão em si.
Música para esconder a dor e dó.
Dormindo em si, em ré
Escapa em fermata, mi menor.

Vibrato em excesso.
Claves trancam as portas, as saídas, o começo (onde começou ?).

Não há saída ou entrada.
Não há nada.
Somente a música e a lira entre passos desconfiados.


A noite cai, o dia termina.
A lira cai em si e recomeça a primeira escala sem dó.
Seria o tempo ? Seria a lua ?
Talvez o mar que tudo sabe, que tudo esconde,
Que leva e traz segredos de conchas, de meninas, de embarcações.

Trabalho sem fim da lira.
O mar esconde ....onde ?
Dor, dó, maior ou menor, o que importa ?
Recomeçar sempre...
Esse é o trabalho, essa é a luta, a sina
De conchas, de meninas , de embarcações...



segunda-feira, 27 de abril de 2009

Espera

Não, eu não espero por nada ou por ninguém.
Vivo e sigo meu caminho sempre com o norte no que acredito.

Seja a chuva da noite aquela que lave o pranto dos inocentes, dos fracos, dos apaixonados.

Seja o sol do meio-dia aquele que queime a raiva,
a dor e o medo e depois de queimar até o fim,
que ele venha fortificar o homem em suas entranhas,
que venha afirmar suas potencialidades
e iluminar suas rotas mais remotas.

Não, não espero pelo sol ou pela lua,
pelo reconforto ou pela força
pelo dia ou pela noite

Não espero pelo instante da luta que se aproxima,
Da próxima descoberta, desconserto, desafio, desejo, deleite
Do próximo degrau

Não espero pela vida ou pela morte
pelo outro ou pelo mundo

Talvez espere por mim,
parte esquecida em alguma esquina onde a lua e o sol não alcançaram.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Saudade


Quando crianças queremos subir aos céus e brincar nas nuvens. Imaginamos o quão bom não seria rolar e pular na nuvem macia como algodão. Fazer dela travesseiro e de outra um brinquedo . Não imaginamos o quão pouco densas e sem graças são. Apenas boas para se ver...

Acontece o mesmo com a lua e o queijo, o final do arco íris, e o por-do-sol ao mar. Queremos ver o ratinho que come a lua, encontrar o tesouro do final do arco íris, escutar o barulho sol que se apaga ao se pôr no mar. Esperar por Papai Noel e Coelhinho da Páscoa e o Velhinho do Sono.

Sinto saudades... saudades de um tempo que não chegou, ou que brincando comigo fez de mim duas jogadas antes fazendo-me chegar antes e ver as coisas antes de acontecerem.
Tenho saudades de um tempo que não virá porque antes de ser seu tempo eu já havia estado.

Sinto falta do que não tive, do que não conheci, sinto falta do que não aconteceu.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Cínicos, cegos e loucos

Definitivamente não gosto do cinismo, do não enfrentamento, da covardia, do disfarce.
Prefiro a loucura ao cinismo, a verdade à mentira, a dor ao medo.
Busco o enfrentamento, mesmo que cego, da luta que muitas vezes se esvai sem frutos.
Prefiro a dor lancinante da espada que penetra profunda no peito a mentira que rasga sem precedentes os sentimentos mais puros e as verdades mais sinceras.

Não gosto de frases feitas, pensamentos roubados, verdades sem fundamento. Não gosto de dívida, dádiva, permito a dúvida, prefiro a dúvida. O que seria de nós sem dúvida ? Certezas incertas de deuses estáticos que de tão senhores de si não permitem a dúvida, não permitem a vida, não vivem a não ser em seu mundo de certezas podres e gastas.

Eu me permito tentar, me permito buscar, me permito errar. Busco incessantemente novos ângulos e visões de certezas que se assombram senhoras de si e as testo, sem piedade. E se das provas temos resultado positivo elas permanecem então por mais tempo, de pé, sempre vigiadas de perto.

Só me entristece saber que ninguém escapa da mentira e da falsidade. Mentimos a nós mesmos, em busca de uma felicidade que não se sabe o que é. Mentimos ao outro. Forjamos. Somos todos cínicos, cegos e loucos.

Das poucas certezas que tenho uma é que nada sei, que tudo é mutável, tudo evolui, e eu também.

Luta cega de um certo capitão


Não sei se luto em vão por um caso perdido. Muitas das vezes é fácil perceber o disfarce do cansaço. Sei que lutarei até o fim, só não posso dizer até o fim de que, se ao findar da luta ou até o fim de mim. Também não sei dizer o que é certo ou errado nessa prova, sigo adiante com força e determinação e mesmo as cegas envergo a espada certeira que aniquila aquele que enfrento. Não sei o que enfrento, não sei da vitória ou derrota. Talvez o que mais importa seja a luta, o aprendizado da determinação e força. Vencer o peso da espada, ou o peso de mim.


domingo, 19 de abril de 2009

Ofélia e o fauno


Venha para o real, o seu real, o mundo de felicidade e justiça onde não há dor ou sofrimento. Mas a princesa curiosa precisa desvendar o outro mundo e compreender porque há tanta dor e iniquidade. Para tal haverá o esquecimento desse mundo, o real, onde há somente amor.

Para cada um de nós há um fauno que assusta e ao mesmo tempo protege, que busca desesperadamente nosso retorno ao reino de amor. Cremos nele ou não? Será ele nossa fuga ? Quem foge de que ? A princesa de seu reino, a mente da dor, o real do irreal ?

Cada qual com seu fauno, cada qual com sua luta interior. Para o fauno um labirinto, onde somente através dele se sabe o caminho de ida e volta. Se aceita o desafio, segue o fauno, ou se perderá no labirinto, mas esteja sempre atento, o próprio fauno tem suas artimanhas, seus truques e provas. Nos resta somente ser o que somos sempre, sermos fiés a nós mesmos até o fim da prova, até o final do labirinto.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Mulheres choram


Essa é uma verdade absoluta. As mulheres choram, e muitas das vezes sem nenhum motivo. As mulheres choram por absolutamente nada, ou, se preferirem, por todos os motivos aos quais elas se sensibilizam. Talvez por não saber conter as lágrimas, coisa que os homens fazem com muito mais facilidade. Mas quais seriam os motivos ? As mulheres, bem mais sensíveis pela sua condição de bagunça hormonal feminina, choram de raiva ou de amor, pela paz que sentem ou pela guerra que destrói. Choram por saber, choram por não saberem... o que ? qualquer coisa... Dependendo de sua condição hormonal esse estado se agrava. Em minha condição feminina sou capaz de chorar assistindo uma propaganda de sabão em pó.

É verdade... isso leva ao desespero o sexo oposto que tenta desesperadamente buscar uma explicação minimamente plausível. Uma explicação que não existe, ou que não faria sentido para a grande maioria dos homens. Nesses momentos apenas abrace, coloque-se a disposição, mas não tente arrancar de si causas para essa dor lancinante e inexistente. Somente o ato solidário é suficiente, calmo e aconchegante. Nem tente entender, seja apenas um companheiro terno desses momentos que não são poucos. Quem sabe assim as mulheres não precisem se esconder mais.

Talvez seja esse um discurso muito voltado para o mundo masculino... é verdade... mas o mundo feminino compreende esses meandros. As mulheres choram por achar que sabem algo que, muito provavelmente é irreal, ou ainda por reconhecerem a irrealidade dos fatos... complicado ? não, apenas feminino. As mulheres choram por sutilezas irreconhecíveis, indescritíveis e de tão pequenas, difíceis de serem identifcadas, até mesmo pela própria. ok, tenho péssima memória, uma grande vocação de Dory (o peixinho esquecido) mas "benditos sejam aqueles que esquecem"

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Em algum tempo, em algum lugar

Saiamos desse tempo e desse espaço.
Nenhuma palavra é necessária.
Não carregamos bagagem, não dependemos de tempo ou de lugar.
Conosco somente a mente. A mente e o coração.

É do silêncio que precisávamos para que houvesse a perfeita compreensão das coisas.
Sem definição de tempo, espaço, somente a mente, somente amor.

E num mergulho profundo em ti minh'alma se desdobra em mil e se encontra novamente una, perfeita, refeita, dócil.

Não, não há tempo, não há corpos, somente a mente e o coração.

E de um instante a outro tudo se completa em perfeita sintonia, a mente e o coração.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Intenção e Gesto

Uma ação deveria falar muito mais que mil palavras. As ações vem do coração e explodem para fora sem querer, como se não estivessem sendo explícitas o suficientes, como se não as víssemos ali, nuas e cruas. Acho eu que cada ação supõe ser disfarce e que a fala, esta sim, irrefutável, a compensa, a remenda.

A ação, lembremos todos, tem uma fala não controlada, não mediada. Basta ter olhos de ver e coração para sentir. As palavras não, podem ser muito mais facilmente treinadas.

Mesmo assim nos prendemos mais a palavras, promessas ditas, ou até mesmo, escritas. Esquecemos da vibração do gesto, esquecemos que o corpo fala, mesmo que contra a mente, mas a favor do coração.

"... E quando a sentença se anuncia bruta, antes que depressa a mão cega executa, porque senão o coração perdoa..."

domingo, 22 de março de 2009

Clementine


Todos temem o fracasso. E então o que fazemos ao nos depararmos com este ser, nobremente vestido, com um ar debochado no canto da boca, nos olhando por cima e se convidando a entrar ? Entramos em pânico ? Não, o medo paralisa. Simplesmente ignoramos, solução fácil. Fechamos as portas, buscamos novas rotas de fuga pra começar de novo.

Clementine não foi fracassada, apenas o começou errado, antes do que devia (ou ainda ignorou a presença desse senhor?) Mas porque fazemos tantas promessas que não podemos cumprir ? Acho eu que para acreditar na auto superação... e dá certo ! As forças surgem do nada para o cumprimento de tais leis impostas por nós mesmos... mas é doloroso... e como...agora só resta saber se vale a pena...

Amelie Poulain


Sim, talvez eu seja a louca, surda e cega que possui um olhar tosco do mundo, infantil e irreal, onde tudo é possível, onde tudo é fantasia. Talvez seja essa recusa do real uma covardia... Mas onde estão aqueles que lutam pelo real, para que seja ele real ? Onde aqueles que acreditam na vida e no desenrolar de uma súbita felicidade?

Meu olhar se esgueira por sombras de cerejeiras onde pequenas vidas perpassam livres. Livres da sombra, da cereja e da criança no balanço. E a vida passa como numa tarde no parque. Ao entardecer a sombra laranja passa por baixo da cerejeira, mais fraca, mais densa, iluminando a menina no balanço, tornando sua silhueta iluminada, seus cabelos brilhantes. O caminho escuro de outrora recebe um tapete vermelho alaranjado para que ela siga, sem medo. E a menina segue assim, cega pela luz e não pela escuridão, surda pelo caminhar das formigas, louca de saudade do dia que se acaba naquele instante, mas vívida por outra que se inicia a seguir.

Os outros, os sãos, onde estão ? Provavelmente fora do parque, longe da árvore, dentro de suas casas, seguros em suas visões reais de pedras e metais.