domingo, 12 de julho de 2009

Fotos antigas

Assim, visto do alto, o mundo torna-se indiferente.
Talvez mais sépia, talvez mais gris.
Seja então o último dos porões a se abrir para que se desfaça toda poeira e mofo ao sol.
Os telhados, esses pobres recebedores de dores e sonhos, percorrem o mundo sem barreiras, sempre ao sol, ao vento, à chuva.
E se vão.
Perdem seu brilho,
sua cor,
seu viço.
Mas estão ali, como um mar de assuntos não percorridos ou anunciados.
Somente os gatos como testemunhas, e a lua como guia.

Ali, visto de cima, não há disfarce.
Os remendos são claros, há marcas do tempo e das intempéries.
Há ninhos passados, abandonados, desfeitos.
Há restos de tudo o que por ali passou.
O que veio de cima mas por ali (re)pousou.
No mais é apenas deserto sem pistas,
mutante,
que expulsa o que recebe.

Talvez mais sépia, talvez mais gris.

Os telhados, esses pobres cobertores de vidas, seguem seus rumos
sem tino ou medo, como cegos ou tolos, gratos ou bestas.
Sem perguntas ou tampouco respostas.
Seguem o destino que a lua dita,
o sol impõe, a chuva exige.

Mas tem o vento.
E esse a tudo desfaz
pois que se coloca entre todos sem licença ou espanto
Sem rima ou poesia
Apenas de fato

E chega varrendo a chuva, esfriando o sol ou a lua.

E o vento define o lugar dos telhados e os arranca pra sempre
dos lugares de sempre
destrói o gris, desfaz o sépia, entorna o vermelho.

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