terça-feira, 26 de outubro de 2010

Passos...

marcas livres de um destino













 Sombras... marcas de um destino
marcas de um caminho,
marcas do avesso,

do contrário.
Marcas ilegíveis, indecifráveis, escondidas, re-marcadas, usadas...

Só como caminho,
como destino,
como forma,
como molde,
como laço,

linha,

lúmem,

livre, liberto que foi,
que vai,
que volta sem marca,
sem destino.

Destino e caminho e o que realmente importa













 Caminhei, caminhei até esquecer o caminho,
Até esquecer o destino,
Até esquecer de mim,

Caminhei por entre as árvores,
               por entre as pedras,
               entre as nuvens.

Caminhei sobre o fogo e me queimei,
               sobre as águas e me afoguei.

Caminhei,
e quando esqueci o destino, o destino era outro...

Caminhei e parei,
ou cheguei,
ou nunca parti.

Então parto,
De cócoras.

sábado, 25 de setembro de 2010

Visões

Caminhantes, vidas e mais vidas.
Vindas, idas, idéias, ideais.
A vida por um instante passa:  do pêssego ao elefante.


Visões irrestritas desse e daquele mundo.
Um passo além ou fora, sem compreensão ou tampouco suspeita, somente vida, intensa vida, criação, parto, lume, lux

Vermelho, laranja, amarelo, branco.

domingo, 20 de junho de 2010

Destino de água














Uma torneira aberta que derrama em vão a água límpida e fresca da manhã
Uma torneira esquecida ou ignorada
Um turbilhão de esforços em vão
Até quando?

Gotejamento de amor amornam a cálida tarde vazia
Refresco para o céu aberto
Rouba o sol um pouco de seu
transporta ao ar um nobre véu
Feito de perfume e paciência
Cuidado, bordado a mão em fios da história diária

À tarde a torneira está morna, sua água, sem destino

Transbordamento em atos, gestos, sons, cheiros, sombras e luz
O solo recebe a água empapuçado
E mesmo não sendo este o destino devido, rouba-lhe um manto
Feito de força e coragem, cuidado
Estampado de loucura e mansidão

Translúcidas gotas sem caminho...
Chega a noite...
Há quem pense que estrelas virão
E seu brilho fará lumiar e resplandecer a água que corre
Enganam-se esses

Tenha certeza agora
O brilho que lá se encontra foi roubado dessa água sem destino
Que mesmo não sendo assim o querer, pôde emprestar um lindo vestido à noite
Feito de ouro e prata, de pureza e verdade

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Um e outro

"Cada um é um...
Cada outro é outro...
Sofrer é um querer ser o outro.
Impossível é que o outro seja um...
Ninguém transforma ninguém.

Compreendendo-se as diferenças entre um e outro,
Forma-se a identidade um-outro.
Um carrega dentro de si o outro,
Enquanto o outro leva um dentro de si.

Assim, um-outro é mais saudável para resolver qualquer sofrimento
Porque não existe vida sem dor.
Um-outro é a multiplicação do amor dos dois.
Porque o amor ajuda a superar a dor.
Um-outro amplifica a alegria e o bom humor
Porque a felicidade ilumina o triunfo da sabedoria."

Içami Tiba

quarta-feira, 17 de março de 2010

Rainhas

Nem um ponto
Nem um conto
Parto para o absurdo de um mundo sem propósito

Um mundo onde a soberania sobrepuja o bom senso
O desejo a necessidade
O poder a razão

Sinto o peso indomável de minhas escolhas
Como numa guerra de travesseiro onde tudo posso
Um chuva de confeti, uma proibição de serpentina

Mundo de nada

Nado
Nado
Não chego e me afogo

Afogamento sem mágoa
Sem dúvida ou dívida
Misto de queijo com queijo
Uma leve sensação de perda
De ausência, de vazio.

Parto de um mundo que não queria nascer
Mas é chegada a hora
E a contra mão é a única saída
Vá, encontre seu destino.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Bufões


Sim, digamos tudo
Apenas para quem sabe ouvir, quem quer ouvir
Ou ainda quem foi escolhido para entender

Não, não exponha assim, não me deflagre a mim
Não me escute, não se entenda, Não se aceite

Sou a contradição de muitos, a percepção de poucos
A loucura e a mansidão

Sim, me perco no tempo e no espaço
E acho que faço o que digo
e que sou o que penso

Ando aos tropeços
Cabeça erguida em nuvens
Pisando firme, em falso, de lado
Como um gato que corre atrás de novelos
E atrás dele, fios espalhados por toda parte, expostos
Quanto menor, mais fácil, menos interessante...
Um tanto perverso, um tanto sórdido

Um tanto triste, melancólico
Um tanto hostil,
um tanto

sábado, 6 de março de 2010

Rainhas e bufões


Ninguém deveria querer lutar com rainhas.
Elas são e pronto.
Umas vez nomeadas, assim serão eternamente, mesmo sendo o eterno grande demais.

Mas o que seriam as rainhas ?
As que detém o poder, soberania, e altivez ?

Talvez não, talvez mais.
Talvez sejam aquelas que detém a atenção e honra dos pobres bobos da corte.
E nas suas piruetas e folguedos a enredam em graça e privilégios.

Bufões, arlequins dissimulados que se esgueiram pelos úmidos córregos margeadores das pequenas vilas e cidadelas do reino.
E a vida flui, no mesmo córrego, no mesmo ritmo, na mesma tonalidade esverdeada e fria.

Em suas firulas e estratégias os bufões falam do ridículo.
Espalham verdades
Espelham absurdos
Esmeram na graça da desgraça,
da própria desgraça, do próprio infortúnio.

E onde as rainhas?
Do mais alto quarto de sua mais alta torre, ela adormece.
Seu sono de rainha, seu sorriso de princesa.
Num coração de menina num mundo de faz-de-conta.

As cores dos bobos divertem,
Seus modos transgridem a paz empoeirada do castelo
O bolor de cada canto é deflagrado com sua música

Vamos, levante-se!

As rainhas permanecem, os bobos são volantes
De acordo com sua esperteza e sagacidade eles se demoram mais ou menos em seus postos...
- Cortem sua cabeça!
Por falar demais,
cantar demais,
colorir demais

Traga outro, ao menos mudam a fantasia...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Metade


Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a musica que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...
Que a mulher que eu amo
seja pra sempre amada
mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece,
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço
E que essa tensão
Que me corroe por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso
mas a outra metade é um vulcão

Que o medo da solidão se afaste,
e que o convívio comigo mesmo,
se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado
na infância
Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio
me fale cada vez mais
Porque metade de mim
é abrigo,
mas a outra metade
é cansaço

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para faze - la florescer
Porque metade de mim é platéia,
e a outra metade é canção

E que a minha loucura seja perdoada,
Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...também.

(Oswaldo Montenegro)