quinta-feira, 30 de abril de 2009

o som de uma lira


E a lira se revolta.
Volta ao passado e desprende saudade a cada sol pálido.
São notas de verdade, de sentimento e razão em si.
Música para esconder a dor e dó.
Dormindo em si, em ré
Escapa em fermata, mi menor.

Vibrato em excesso.
Claves trancam as portas, as saídas, o começo (onde começou ?).

Não há saída ou entrada.
Não há nada.
Somente a música e a lira entre passos desconfiados.


A noite cai, o dia termina.
A lira cai em si e recomeça a primeira escala sem dó.
Seria o tempo ? Seria a lua ?
Talvez o mar que tudo sabe, que tudo esconde,
Que leva e traz segredos de conchas, de meninas, de embarcações.

Trabalho sem fim da lira.
O mar esconde ....onde ?
Dor, dó, maior ou menor, o que importa ?
Recomeçar sempre...
Esse é o trabalho, essa é a luta, a sina
De conchas, de meninas , de embarcações...



segunda-feira, 27 de abril de 2009

Espera

Não, eu não espero por nada ou por ninguém.
Vivo e sigo meu caminho sempre com o norte no que acredito.

Seja a chuva da noite aquela que lave o pranto dos inocentes, dos fracos, dos apaixonados.

Seja o sol do meio-dia aquele que queime a raiva,
a dor e o medo e depois de queimar até o fim,
que ele venha fortificar o homem em suas entranhas,
que venha afirmar suas potencialidades
e iluminar suas rotas mais remotas.

Não, não espero pelo sol ou pela lua,
pelo reconforto ou pela força
pelo dia ou pela noite

Não espero pelo instante da luta que se aproxima,
Da próxima descoberta, desconserto, desafio, desejo, deleite
Do próximo degrau

Não espero pela vida ou pela morte
pelo outro ou pelo mundo

Talvez espere por mim,
parte esquecida em alguma esquina onde a lua e o sol não alcançaram.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Saudade


Quando crianças queremos subir aos céus e brincar nas nuvens. Imaginamos o quão bom não seria rolar e pular na nuvem macia como algodão. Fazer dela travesseiro e de outra um brinquedo . Não imaginamos o quão pouco densas e sem graças são. Apenas boas para se ver...

Acontece o mesmo com a lua e o queijo, o final do arco íris, e o por-do-sol ao mar. Queremos ver o ratinho que come a lua, encontrar o tesouro do final do arco íris, escutar o barulho sol que se apaga ao se pôr no mar. Esperar por Papai Noel e Coelhinho da Páscoa e o Velhinho do Sono.

Sinto saudades... saudades de um tempo que não chegou, ou que brincando comigo fez de mim duas jogadas antes fazendo-me chegar antes e ver as coisas antes de acontecerem.
Tenho saudades de um tempo que não virá porque antes de ser seu tempo eu já havia estado.

Sinto falta do que não tive, do que não conheci, sinto falta do que não aconteceu.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Cínicos, cegos e loucos

Definitivamente não gosto do cinismo, do não enfrentamento, da covardia, do disfarce.
Prefiro a loucura ao cinismo, a verdade à mentira, a dor ao medo.
Busco o enfrentamento, mesmo que cego, da luta que muitas vezes se esvai sem frutos.
Prefiro a dor lancinante da espada que penetra profunda no peito a mentira que rasga sem precedentes os sentimentos mais puros e as verdades mais sinceras.

Não gosto de frases feitas, pensamentos roubados, verdades sem fundamento. Não gosto de dívida, dádiva, permito a dúvida, prefiro a dúvida. O que seria de nós sem dúvida ? Certezas incertas de deuses estáticos que de tão senhores de si não permitem a dúvida, não permitem a vida, não vivem a não ser em seu mundo de certezas podres e gastas.

Eu me permito tentar, me permito buscar, me permito errar. Busco incessantemente novos ângulos e visões de certezas que se assombram senhoras de si e as testo, sem piedade. E se das provas temos resultado positivo elas permanecem então por mais tempo, de pé, sempre vigiadas de perto.

Só me entristece saber que ninguém escapa da mentira e da falsidade. Mentimos a nós mesmos, em busca de uma felicidade que não se sabe o que é. Mentimos ao outro. Forjamos. Somos todos cínicos, cegos e loucos.

Das poucas certezas que tenho uma é que nada sei, que tudo é mutável, tudo evolui, e eu também.

Luta cega de um certo capitão


Não sei se luto em vão por um caso perdido. Muitas das vezes é fácil perceber o disfarce do cansaço. Sei que lutarei até o fim, só não posso dizer até o fim de que, se ao findar da luta ou até o fim de mim. Também não sei dizer o que é certo ou errado nessa prova, sigo adiante com força e determinação e mesmo as cegas envergo a espada certeira que aniquila aquele que enfrento. Não sei o que enfrento, não sei da vitória ou derrota. Talvez o que mais importa seja a luta, o aprendizado da determinação e força. Vencer o peso da espada, ou o peso de mim.


domingo, 19 de abril de 2009

Ofélia e o fauno


Venha para o real, o seu real, o mundo de felicidade e justiça onde não há dor ou sofrimento. Mas a princesa curiosa precisa desvendar o outro mundo e compreender porque há tanta dor e iniquidade. Para tal haverá o esquecimento desse mundo, o real, onde há somente amor.

Para cada um de nós há um fauno que assusta e ao mesmo tempo protege, que busca desesperadamente nosso retorno ao reino de amor. Cremos nele ou não? Será ele nossa fuga ? Quem foge de que ? A princesa de seu reino, a mente da dor, o real do irreal ?

Cada qual com seu fauno, cada qual com sua luta interior. Para o fauno um labirinto, onde somente através dele se sabe o caminho de ida e volta. Se aceita o desafio, segue o fauno, ou se perderá no labirinto, mas esteja sempre atento, o próprio fauno tem suas artimanhas, seus truques e provas. Nos resta somente ser o que somos sempre, sermos fiés a nós mesmos até o fim da prova, até o final do labirinto.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Mulheres choram


Essa é uma verdade absoluta. As mulheres choram, e muitas das vezes sem nenhum motivo. As mulheres choram por absolutamente nada, ou, se preferirem, por todos os motivos aos quais elas se sensibilizam. Talvez por não saber conter as lágrimas, coisa que os homens fazem com muito mais facilidade. Mas quais seriam os motivos ? As mulheres, bem mais sensíveis pela sua condição de bagunça hormonal feminina, choram de raiva ou de amor, pela paz que sentem ou pela guerra que destrói. Choram por saber, choram por não saberem... o que ? qualquer coisa... Dependendo de sua condição hormonal esse estado se agrava. Em minha condição feminina sou capaz de chorar assistindo uma propaganda de sabão em pó.

É verdade... isso leva ao desespero o sexo oposto que tenta desesperadamente buscar uma explicação minimamente plausível. Uma explicação que não existe, ou que não faria sentido para a grande maioria dos homens. Nesses momentos apenas abrace, coloque-se a disposição, mas não tente arrancar de si causas para essa dor lancinante e inexistente. Somente o ato solidário é suficiente, calmo e aconchegante. Nem tente entender, seja apenas um companheiro terno desses momentos que não são poucos. Quem sabe assim as mulheres não precisem se esconder mais.

Talvez seja esse um discurso muito voltado para o mundo masculino... é verdade... mas o mundo feminino compreende esses meandros. As mulheres choram por achar que sabem algo que, muito provavelmente é irreal, ou ainda por reconhecerem a irrealidade dos fatos... complicado ? não, apenas feminino. As mulheres choram por sutilezas irreconhecíveis, indescritíveis e de tão pequenas, difíceis de serem identifcadas, até mesmo pela própria. ok, tenho péssima memória, uma grande vocação de Dory (o peixinho esquecido) mas "benditos sejam aqueles que esquecem"

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Em algum tempo, em algum lugar

Saiamos desse tempo e desse espaço.
Nenhuma palavra é necessária.
Não carregamos bagagem, não dependemos de tempo ou de lugar.
Conosco somente a mente. A mente e o coração.

É do silêncio que precisávamos para que houvesse a perfeita compreensão das coisas.
Sem definição de tempo, espaço, somente a mente, somente amor.

E num mergulho profundo em ti minh'alma se desdobra em mil e se encontra novamente una, perfeita, refeita, dócil.

Não, não há tempo, não há corpos, somente a mente e o coração.

E de um instante a outro tudo se completa em perfeita sintonia, a mente e o coração.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Intenção e Gesto

Uma ação deveria falar muito mais que mil palavras. As ações vem do coração e explodem para fora sem querer, como se não estivessem sendo explícitas o suficientes, como se não as víssemos ali, nuas e cruas. Acho eu que cada ação supõe ser disfarce e que a fala, esta sim, irrefutável, a compensa, a remenda.

A ação, lembremos todos, tem uma fala não controlada, não mediada. Basta ter olhos de ver e coração para sentir. As palavras não, podem ser muito mais facilmente treinadas.

Mesmo assim nos prendemos mais a palavras, promessas ditas, ou até mesmo, escritas. Esquecemos da vibração do gesto, esquecemos que o corpo fala, mesmo que contra a mente, mas a favor do coração.

"... E quando a sentença se anuncia bruta, antes que depressa a mão cega executa, porque senão o coração perdoa..."